Tão gostoso quanto ir à festa é ouvir os comentários sobre ela depois. Ficam aqui alguns comentários sobre coisas marcantes na Campus Party e que tiveram destaque especial nessa edição de 2010.
1. A Campus Party já possui uma trajetória própria aqui no Brasil. Ela está consolidada como um espaço de reflexão sobre temas da vida digital e suas interfaces com os demais temas nacionais ou internacionais. A convivência entre visões divergentes é tônica do debates, o que garante a Campus Party uma condição de território neutro, aberto à diversidade. O Pedro Doria, no painel "Blogs, mídias sociais e política" colocou essa questão: será que os blogs conseguem existir sem se tornar um espaço polarizado de discussão política? Sobre os blogs, não houve consenso na resposta. A Campus Party, acredito, consegue sim garantir essa condição de debate.
2. O enorme interesse de troca sobre conhecimentos tecnológicos e os debates sobre as formas de inserção da tecnologia na sociedade coexistem na Campus Party. "Essa é a São Paulo Nerd Week", definiu bem o Marcelo Tas, no Momento Telefônica, mas boa parte de seus conteúdos é de interesse para não-nerds também. Direitos Humanos, política, questões de gênero e inclusão social, empreendedorismo, são alguns dos temas que permeiam os inúmeros paineis. A permanência do Bar Camp como um espaço de conversas auto-organizadas (desconferências) garante espaço para a inclusão de todo tipo de conversa.
3. Participação e colaboração são pressupostos inerentes a filosofia da Campus Party. Sempre tem alguém para ajudar, se o seu computador der pau ou se o carregador de celular ficou esquecido em casa. As cadeiras são de todos, os pufes também. Sentar numa bancada nova a cada dia e puxar conversa com quem está ao lado é algo a ser feito com a maior naturalidade. As pessoas vão a Campus Party com muita abertura para se conhecer, ainda que as tribos se agreguem, geograficamente. A força de temas como "Redes Sociais" - com o Momento Telefônica do Scot Goodstein, por exemplo, e o espaço para formas alternativas de licenças autorais, com a participação do Lawrence Lessig, do Creative Commons, permitiu uma boa ligação entre o espírito dos participantes e as exposições teóricas.
4. Há uma evolução na conversa de ano a ano, na Campus Party. Não há mais aquele clima que sentia-se, em 2008, de forte tensão entre o espaço para produção de conteúdo por profissionais da imprensa e participantes em geral. Em 2009, a mobilização contra a Lei Azeredo foi um tema apimentado, o que permitiu vários desdobramentos ao longo do ano, entre eles o arquivamento do projeto de lei. Em 2010, a estrela de pedaço foi a discussão sobre o Marco Civil da internet.
Os programas de Inclusão Digital - da esfera federal, estadual e municipal - mostraram força nos anos anteriores, perdendo holofotes, nessa edição, para a forte atuação dos proprietários de Lan House. Fala-se menos em cidades digitais, fala-se mais em dispositivos móveis. Como disse o Sérgio Amadeu na coletiva que antecedeu a Campus Party, esse é o lugar para se conhecer as tendências do que acontece na internet no Brasil. Refletir sobre essas tendências, portanto, é um caminho obrigatório para orientar ações ou rever decisões, por parte do poder público, das empresas e mesmo para ação de cada um de nós, membros da sociedade civil.
5. Os painéis e as ações que envolvem questões educacionais ganham a cada ano mais expressão. Sejam em espaços formais dos painéis ou em espaços de desconferência, o número de pessoas envolvidas, das mais diversas áreas, só vem crescendo. 2010 será o ano para uma reflexão mais organizada sobre o campo da Educação na Campus Party. Criar uma área específica contribuirá para ampliar o debate e trazer mais gente para essas conversas ou implicará em discussões mais repetitivas, isoladas da riqueza da diversidade do evento?
Ficam aqui essas anotações como lembrete, ou ponto de partida de várias das conversações que gostaríamos de continuar.