sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Grande Rede, pequenos produtores: algumas ideias sobre uma ótima conversa

Na tarde da 3a feira, 26/01, acompanhei a mesa Grande rede, pequenos produtores, moderada pela Samantha Shiraishi, no Campus Blog. A idéia era pensar em como os jovens que estão começando a despontar na Rede por meio de seus blogs, produção de ilustrações ou outras intervenções vêem a internet na sua vida.


Um dos participantes era o Fábio Yabú, que começou muito menino e hoje é conhecido como desenhista e autor de sucesso - ele é o criador da série Princesas do Mar. Os demais, marcaram pela sua juventude: o João Montanaro, o Joaquim Lo Prete e a Victória Bastos tem 13 anos de idade. A Victória estava acompanhada na mesa pela mãe, Mafê Bastos, do blog Melancia. Suas falas impressionam pelo vocabulário, pela precisão, pela articulação. Eles mesmos reconhecem que destoam em suas turmas, e nem todos os amigos entendem bem, afinal, por que toda essa dedicação à sua produção no mundo digital.

Estavam presentes no debate vários alunos do Projeto Nas Ondas do Rádio, que vem fazendo um trabalho intenso de produção digital nas suas escolas e na cobertura de diversos eventos.
Foi bem interessante constatar um fenômeno: na vida dos jovens que participaram da mesa, a escola tem pouca ou nenhuma participação direta em suas atividades na esfera digital. Um ou outros professor que conhece suas produções, às vezes até estimula. No caso dos alunos do Projeto Nas Ondas do Rádio, de escolas públicas da Prefeitura de São Paulo, ocorre o caminho inverso: é a escola o espaço de referência de onde emergiu a oportunidade de aproximar-se da internet. São os projetos proporcionados pela escola que estimulam esses meninos e meninas a entrevistarem editarem, filmarem, escreverem, fotografarem, e povoar a Rede com os produtos de sua criação.
De algum modo, é como se tivessemos de nos perguntar: quais os obstáculos, nas instituições privadas, para a integração da vida em Rede nas ações pedagógicas?
E por outro lado, também caberia refletir: em que medida as escolas conseguem aproximar as famílias dos alunos da escola pública da vivência do mundo digital?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Campus Party: espaço dos encontros

A #cparty é um espaço que abriga um público notadamente marcado pela diversidade...é a praia de todos: do diverso, da tolerância, da colaboração, dos encontros.

En resumen, que todo el mundo tiene cabida en Campus Party,
diz Rosa Jiménez Cano, no blog La Comunidad, do jornal espanhol El Pais.

Nosso destaque nos próximos posts é para alguns encontros em especial que aconteceram na edição 2010 da CP ...

Não, não vamos falar sobre os encontros do público com celebridade
s do mundo real ou do webmundo que estiveram por lá. Vamos focar em encontros mais simples, mas que muitas vezes não ocorrem: o de alunos e professores, o da escola com a não escola, o da escola com a comunidade em que está inserida, mas muitas vezes, distanciada.

Esses encontros, nesse que é considerado o maior evento de tecnologia do país, merecem nossa atenção, pois acreditamos que possam suscitar reflexões que nos sinalizem caminhos a trilhar rumo à mudança e à quebra de antigos paradigmas no campo da educação.

1. Alunos e professores: juntos

Observando a movimentação toda, por dias seguidos, posso afirmar que os professores engajados no projeto Nas Ondas do Rádio sabem, com certeza, que o desejo de superação, de desafiar e ser desafiado, a curiosidade, são características inerentes a crianças e adolescentes. São necessidades que precisam ser supridas.

São capazes também de reconhecer habilidades e estratégias de aprendizagem que esses jovens vêm desenvolvendo fora da escola.

Souberam, ao propor atividades em que o jovem é o repórter, atender às necessidades reais de seus alunos.

E, certamente, estão buscando se adequar a este novo contexto de cultura digital e ousando nas formas de utilizar as tecnologias a favor do processo ensino-aprendizagem.

E fizeram tudo isso juntos: optaram por trocar a relação tão hierarquizadas dentro da sala de aula por uma mais marcada pela horizontalidade. Parabéns a todos!

Na foto, a aluna Gabriela Valim grava áudio com Mila Gonçalves, colaboradora EducaRede. Sua colega de escola, grava o vídeo. O professor registra tudo!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Campus Party 2010 - para não esquecer!

Tão gostoso quanto ir à festa é ouvir os comentários sobre ela depois. Ficam aqui alguns comentários sobre coisas marcantes na Campus Party e que tiveram destaque especial nessa edição de 2010.



1. A Campus Party já possui uma trajetória própria aqui no Brasil. Ela está consolidada como um espaço de reflexão sobre temas da vida digital e suas interfaces com os demais temas nacionais ou internacionais. A convivência entre visões divergentes é tônica do debates, o que garante a Campus Party uma condição de território neutro, aberto à diversidade. O Pedro Doria, no painel "Blogs, mídias sociais e política" colocou essa questão: será que os blogs conseguem existir sem se tornar um espaço polarizado de discussão política? Sobre os blogs, não houve consenso na resposta. A Campus Party, acredito, consegue sim garantir essa condição de debate.

2. O enorme interesse de troca sobre conhecimentos tecnológicos e os debates sobre as formas de inserção da tecnologia na sociedade coexistem na Campus Party. "Essa é a São Paulo Nerd Week", definiu bem o Marcelo Tas, no Momento Telefônica, mas boa parte de seus conteúdos é de interesse para não-nerds também. Direitos Humanos, política, questões de gênero e inclusão social, empreendedorismo, são alguns dos temas que permeiam os inúmeros paineis. A permanência do Bar Camp como um espaço de conversas auto-organizadas (desconferências) garante espaço para a inclusão de todo tipo de conversa.

3. Participação e colaboração são pressupostos inerentes a filosofia da Campus Party. Sempre tem alguém para ajudar, se o seu computador der pau ou se o carregador de celular ficou esquecido em casa. As cadeiras são de todos, os pufes também. Sentar numa bancada nova a cada dia e puxar conversa com quem está ao lado é algo a ser feito com a maior naturalidade. As pessoas vão a Campus Party com muita abertura para se conhecer, ainda que as tribos se agreguem, geograficamente. A força de temas como "Redes Sociais" - com o Momento Telefônica do Scot Goodstein, por exemplo, e o espaço para formas alternativas de licenças autorais, com a participação do Lawrence Lessig, do Creative Commons, permitiu uma boa ligação entre o espírito dos participantes e as exposições teóricas.

4. Há uma evolução na conversa de ano a ano, na Campus Party. Não há mais aquele clima que sentia-se, em 2008, de forte tensão entre o espaço para produção de conteúdo por profissionais da imprensa e participantes em geral. Em 2009, a mobilização contra a Lei Azeredo foi um tema apimentado, o que permitiu vários desdobramentos ao longo do ano, entre eles o arquivamento do projeto de lei. Em 2010, a estrela de pedaço foi a discussão sobre o Marco Civil da internet.
Os programas de Inclusão Digital - da esfera federal, estadual e municipal - mostraram força nos anos anteriores, perdendo holofotes, nessa edição, para a forte atuação dos proprietários de Lan House. Fala-se menos em cidades digitais, fala-se mais em dispositivos móveis. Como disse o Sérgio Amadeu na coletiva que antecedeu a Campus Party, esse é o lugar para se conhecer as tendências do que acontece na internet no Brasil. Refletir sobre essas tendências, portanto, é um caminho obrigatório para orientar ações ou rever decisões, por parte do poder público, das empresas e mesmo para ação de cada um de nós, membros da sociedade civil.

5. Os painéis e as ações que envolvem questões educacionais ganham a cada ano mais expressão. Sejam em espaços formais dos painéis ou em espaços de desconferência, o número de pessoas envolvidas, das mais diversas áreas, só vem crescendo. 2010 será o ano para uma reflexão mais organizada sobre o campo da Educação na Campus Party. Criar uma área específica contribuirá para ampliar o debate e trazer mais gente para essas conversas ou implicará em discussões mais repetitivas, isoladas da riqueza da diversidade do evento?

Ficam aqui essas anotações como lembrete, ou ponto de partida de várias das conversações que gostaríamos de continuar.